Utila

Passámos 6 meses na Nicarágua, nas Honduras, estamos à um mês! O objectivo inicial seria vir apenas a Utila, mas acabámos por alterar e em vez de ficarmos apenas por Utila, decidimos abdicar do voluntariado na Whale Shark Research Center e conhecer um pouco mais das Honduras. A ideia de depois não ter recursos para visitar o país e apenas conhecer esta ilha, não estavam de acordo com o que me apetecia e agora, após mais de 10 locais visitados, estou radiante pela escolha. Utila é uma ilha pequena, que da Honduras que conheci tem …. bem pertence, nada mais! Roatan, apesar de ilha, tem 10x a população de Utila e ainda vimos alguns Hondurenhos. Utila também os tem, mas são muito poucos e os turistas, diga-se os Israelitas, muitos!!! Existem muitos estrangeiros, mas a proporção do país do médio oriente face aos restantes é desigual. É engraçado quando começamos a viajar e começamos a notar as diferenças e a reconhecer as nacionalidades. Os Israelitas por exemplo, são parecidos com os portugueses, cor de pele, talvez um pouquinho mais morenos, mas quando se vê uma rapariga com um rabo de cavalo, meio apanhado no cimo da cabeça ou com mt cabelo encaracolado, não engana!!!


Esta ilha é um pequeno mundo de turistas, que apenas param, por mais tempo por causa do mergulho. A ilha em si não tem nada de especial e não fosse a oferta mais barata de todo a América Central para mergulhar (excepto Pananá) e duvido que alguém se perdesse mais de 2 dias por estes lados. Não tem praia ou as que tem são muitos pequenas ou privadas. Tem demasiadas casas que aproveitam todo o espaço disponível ou  ganham terreno à água, elevando a estrutura.

 
 
 
 
 

Iniciamos o curso de mergulho na sexta, os primeiros passos são com vídeos e sessões em sala, mas quando finalmente íamos iniciar na água o nosso instrutor pediu-nos para adiar, pois não estava bem do estômago. Esta é daquelas desculpas que resulta sempre, muito mais no país do 3º mundo, onde com frequência, as pessoas ficam não se sentem muito bem, com problemas gastrointestinais. Agora, nós também o ouvimos, a combinar a festa para sábado à noite, era na sua casa e quando combinava enquanto nós o ouvíamos, estava a fazê-lo com quem ia levar as bebidas. Pois eu em Utila dediquei-me apenas ao desporto, recusei sair e nem uma cerveja bebi, pois queria o meu corpo totalmente focado neste novo exercício… constantemente tive de dizer ao Thiago: “Não quero sair, quero só mergulhar, bebemos apenas uma cerveja no fina, para comemorar”…e o nosso instrutor cancelou no domingo porque estava de ressaca!!!! Tive de levar com o olhar do Thiago, com: eu não sai!!! aliás nós não saímos e que vamos fazer hoje? “Passear”… Com algum custo consegui convencê-lo a dar a volta a metade da ilha, caminhamos por uma hora, para apenas ver pântanos e sermos devorados por mosquitos e sand flies (não me recordo da tradução), mas ambos são irritantes e tenho as pernas e braços desfeitos, alguns em ferida de tanto me coçar. Aprendi com o Avi ainda em Roatan que um dos prazeres, “orgásmico”, como ele o descrevia, para quem vive nas ilhas é coçar. Para mim é uma satisfação muito pequena comparado com a comichão que sinto constantemente…. Todos as pessoas têm as suas marcas e quando estamos em grupo, já nem reparamos o quanto as pessoas se coçam, acho que se acabasse de chegar proveniente de Portugal, pensaria que havia infestação de sarna….

Agora, directa ao que interessa: Mergulhar!!! A memória é traiçoeira, faz-nos esquecer das partes que não queremos recordar, por isso quero escrever antes de chegar e falar com alguns de vós e quando me perguntarem se gostei só serei capaz de dizer que adorei!

 
 
 
 
 
 

O ser humano não respira dentro de água! O nosso cérebro não aceita este facto, por mais que pensemos que estamos a inspirar oxigénio, estamos debaixo de água!!! Quando fazemos snorkeling, o ar vem como o conhecemos, por um tubo com 20 cm, mas sabe ao mesmo e respiramos normalmente. Quando temos uma botija, o ar chega-nos mais rápido, não necessitamos de inspirar, apenas de travar, para o mesmo não continuar a sair da botija, atravessar o sistema de descompressão e chegar-nos por um dos tubos. No momento em que me ajoelhei dentro de água e apenas respirei pela botija, fui um momento de pânico. Constantemente tive de forçar o cérebro a raciocinar e pensar que sobreviveria, porque estava a receber oxigénio, mas mesmo assim, só me apetecia regressar à superfície. Anos e anos a respirar pelo nariz e apenas utilizo a boca, quando faço exercício e estou super cansada, o que me leva de novo a pensar que estou em esforço e quero conseguir respirar, normalmente. No snorkeling também respiramos pela boca, mas não pensamos que não podemos vir à superfície quando queremos, aqui temos de esperar… Se acreditasse em vidas passadas diria que faleci outrora com falta de ar e dentro de água. O pânico levou a nunca conseguir virar o barco quando fazia canoagem e a detestar o jogo da amôna, sempre que me colocavam muitas vezes para baixo, sufocava por antecipação…. Também quando saltei de pára-quedas, diverti-me imenso nos primeiros 5 segundos, depois quando o meu colega parecia que tinha acabado um charro eu apenas tentava manter a boca fechada e inspirar algum ar,  a velocidade que o ar entrava pelas vias respiratórias quase me sufocava….

Mas, terça-feira, terminamos com sucesso o curso! Nos últimos 2 mergulhos de apenas 4 para ficarmos aptos, desci até 18 metros e ao contrário de nos primeiros 2, onde a minha preocupação era saber a que profundidade e se poderia ainda efectuar uma subida de emergência, pude finalmente/calmamente apreciar um pouco mais da natureza, como o peixe trompeta, angelfish , raia ou a moreia que quando me coloquei no seu campo de visão abriu a boca e fez-me dar gargalhadas e agarrar o braço do instrutor com medo. Mas agora posso dizer que estou viciada, talvez também o mergulho liberte serotonina como o chocolate ou nos faça mais feliz como o sol, mas superei o pânico inicial e a calma da profundidade relaxa-nos como talvez o Yoga….

Recordando de novo o salto Tandem de pára-quedas, quando descia, no chão estava um cartaz enorme: ”Casa Comigo”, sobrevoámos, mas sabia que não seria para mim, felizmente também na terça não foi para mim, o anel escondido numa rocha e cartazes ao estilo do love actually, terminando com “Whale you marry me?”. Felizmente, porque a rapariga chorava e ria ao mesmo tempo e eu quase pensei que se afogaria, num misto de emoções. Não daria uma bela notícia, rapariga afogada quando namorado lhe pede em casamento. Estavam apenas os dois instrutores, o casal e eu e o Thiago a presenciar o momento, que ficará para sempre nas nossas memórias como quando nos certificamos em mergulho ou quando me pediste em casamento, para eles….. Já em Terra quando toda a gente quis ver os cartazes, um sr mais velho disse-lhe, apesar de ter piada, não a comeces já a chamar gorda, caso queiras que resulte!!!!


Post by Helena


+ Fotos

A ilha
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

O nosso hostel

 
 
A treinar na piscina

Os meios de transporte

 
 
 
 
 
 
 

Uma equipa em mudanças :D

 
 

Roatan

Volvidos 7 meses do início desta viagem, cada vez o dinheiro faz mais parte das nossas decisões. Para os mais curiosos e com os quais não tenho qualquer problema em partilhar, para terem uma ideia após 7 meses fora, cheguei finalmente à quantia de 5.000€ gastos, o que ronda os 715€ por mês. Verdade seja dita que nunca vivemos com muitos luxos, mas também pouco nos privámos, sempre fazendo as contas, porque sim alguns chamam-me de forreta…

As Honduras, têm 3 ilhas, mas existe uma que descartámos, Guanaja. Com valores de quartos exorbitantes, não nos podemos dar a este luxo, mas ainda nos resta Róatan e Útila. Útila tem paragem obrigatória para o tão aguardado curso de mergulho, mas Róatan por momentos foi uma incógnita. Enviámos alguns couchrequest e estávamos na véspera de partir, sem qualquer resposta ou internet para verificar. Pensámos seguir de imediato para Útila, mas quando regressámos a La Ceiba, para apanhar o barco para a ilha, parámos para almoçar e consultámos o CS. O Avi tinha confirmado que nos poderia receber. Temos apenas 2 dias, face ao que pensámos de forma a regressarmos ainda a Tegucigalpa e estar em Cuba para os meus anos. Róatan é grande para uma ilha, com 50 km de comprimento, precisamos alguém para nos guiar, porque eu quando viajo quero sempre ver tudo e aqui, não vou poder!! Com a resposta afirmativa do CS, resolvemos 2 problemas, a escolha de hotel e o que vamos visitar, por certo o Avi nos dará bons conselhos. E a 2 horas de embarcarmos mudámos novamente de planos e vamos para Róatan. Isto também só é possível porque o porto de partida é o mesmo e ainda não tínhamos adquirido qualquer bilhete….

Neste porto, fazemos o registo com quase mais “seriedade” que para andar de avião dentro da Nicarágua. Recordo que apanhei o avião com uma simples fotocópia do passaporte e aqui tive de mostrar a verdadeira identificação. Detector de metais e até me questionaram sobre líquidos. O barco é estável, com ar condicionado e cadeiras de cadedal, novo, limpo, temos de imediato a sensação que vamos para um lugar turístico, mas não de simples backpackers. Iniciámos a viagem de dia e chegámos já era noite. O céu e as nuvens mostraram-me algo que nunca tinha presenciado, com uma nuvem bem baixa, com chuva e pluviosidade confinada num rectângulo entre o oceano (ou mar das Caraíbas) e a nuvem.

 
 
 
 
 
 

A um momento no tempo, quando já tinha guardado a máquina e já mais calma e descontraída aproveitava os bancos de plásticos, sim porque turista que é turista vai na rua e não quer o ar condicionado :D … a sra do lado, diz-me:”olha um tuvão de água”..”ahh”, só depois lembrei-me de tirar a máquina e fotografar…..

 

A ilha é de facto enorme e agora temos de encontrar um táxi e, o normal regateio. Por vezes sinto a falta do taxímetro. Entramos e já está. Aqui temos sempre de regatear e por 10 dólares, seguimos versus os iniciais 20 dólares. Nas localidades, o preço por norma é fixo e por pessoa, quando as distâncias são maiores ou saimos da cidade é que temos de antemão saber o valor, ou somos enganados. Recordo-me que quando fomos a Ometepe, ainda na Nicarágua, perguntei o preço a uma sra no autocarro. Disse-nos 1 dólar por pessoa e seguimos pagando mais, 4$ para 3pessoas, na altura que o Zack ainda estava connosco :D Quando chegou outro táxi, um viajante perguntou-nos quanto tínhamos pago e dissemos 4$, o sr disse que tinha feito um pouco melhor, 10$ por todos. Também eram 3, mas o taxista pediu-lhe 4$ por cada e quando lhe dissemos 4 assumiu por cada, quando lhe explicámos…. bem engoliu a parte de: “um pouco melhor” :D…lol…

Bem e regressando às Honduras, seguimos até West End, para muitos a parte mais divertida da ilha de Róatan….
Quando temos uma experiência de CS, os momentos iniciais é quando nos apresentamos e quando “quebramos o gelo”, mas imaginem: nós estamos a viajar, o que menos nos apetece e o que menos energia temos é para grandes euforias quando chegamos à casa de alguém. Pode até parece indelicado, mas jantar e ficar um pouco a olhar para o ar é o que realmente nos satisfaz. Quando conhecemos o Avi, este perguntou-nos o que queríamos fazer. Aqui, com a simpatia falsa de quem não quer fazer desfeita, respondi o que quiseres, és o anfitrião e decides, estamos por tua conta. O Avi ganhou-me na resposta, e disse: “vamos subir o monte e ver a paisagem da ilha”, questionou-me senão tínhamos sido guias e senão nos apetecia uma caminhada… mas era apenas o seu sentido de humor, que descobrimos muito mais aguçado, a brincar com os dois que lhe tinham aparecido em casa. Fomos apenas beber uma cerveja e vimos uns filmes, mesmo o que nos apetecia. O Avi foi um dos anfitriões que nunca me esquecerei, além do seu sentido de humor, partilhou connosco a sua visão sobre as questões difíceis, nomeadamente religião, vida e destino. Para mim são sempre conversas interessantes, gosto bastante de conhecer as diversas opiniões, sendo a minha um tanto ou quanto aborrecida. Acredito na ciência e em pouco mais, mas como referi em plena conversa, quando estudava ensinaram-me que não existe vida na Lua porque não existia água. Agora já descobriram água, qual o argumento? O Avi abriu-me um pouco os horizontes e partilhou algumas ideias e ideais, que apesar de não me fazerem mudar de ideias, deixaram-me fascinada, como podemos pensar e agir de forma tão distinta. E depois de tão “leves” conversas terminámos num bar local, onde algum dos amigos do Avi me indicavam que muitas pessoas, moram anos na ilha e não vão a este bar, não confraternizam com locais. Verdade que apenas nós os 5 nos destacávamos por estrangeiros, mas isso é o que mais me agrada. Acabei a noite com o seguinte pensamento: Em trujillo estávamos num quarto bem modesto, hj tivemos com a classe alta durante a tarde e voltamos à Terra, neste bar (não significa que têm menos dinheiro de quem os visita, apenas aparentam modéstia)!!!

Uma das partes importantes que ainda não mencionei, foi todo o dia de 4ª feira. Acabou de facto na partilha de profundos pensamentos e num bar local, mas começou como uma incógnita. O Avi disse-nos que nos levaria até ao seu trabalho, que ficava na sua parte favorita da ilha. A minha ideia era caminhar de volta até casa e conhecer um pouco mais, mas desisti. Ele trabalha no melhor resort daquela praia e quando chegámos recebemos uma pulseirita para usufruir do privilégio de convidados desse dia. Se fossemos quaisquer desconhecidos teríamos de pagar 25$, mas não pagámos nada. A piscina, termina junto à areia. 

 
 
Esta é a sua secretária (Avi)

Na areia as cadeiras e a água. Bem, a água do mais translúcida. Back to Paradise!!! (Corn Island é também bem bonito, link

Agora, este é um daqueles resorts que pensamos quando nos imaginamos numas férias nas Caraíbas e era mesmo aí que estávamos. Ao final do dia para relaxar tivemos ainda a companhia do Avi e fomos fazer snorkeling onde ele apanhou este peixinho bem feinho, 


de resto passei o dia a dormir e a morrer de tédio, nada havia para fazer senão ficar na espreguiçadeira e nadar, além de olhar o mar :D (erro o mp3 não ter bateria e não ter levado o livro,  a praia em 20 min percorremos de um lado ao outro e não fizemos mais de uma viagem)… As fotos falam o resto!!!


É isto que me faz adorar ser backpacker, em Trujillo recordo a luta do Thiago com uma barata no quarto, no dia seguinte pulseira no braço num resort, na 5ª de manhã dormimos numa hamaca enquanto aguardámos o catamaram que nos levou a Útila! 

 

Altos e baixos, mas sem limites definidos e de mente aberta, pois continuo a ser sempre surpreendida…..


Post by Helena